17/11/2022

NOVE MESES DE GUERRA NA UCRÂNIA: COMO O CONFLITO SE DESENROLOU E PARA ONDE CAMINHA

Por Vagner dos Santos Alves

A guerra na Ucrânia já passa de 250 dias. Esse conflito, que se iniciou no dia 24 de fevereiro, teve como causa principal a reação da Rússia quanto à uma possível aproximação da Ucrânia com a aliança militar OTAN. A OTAN é um tratado cujo princípio é garantir a todos os países membros que caso um dos seus componentes seja atacado por um inimigo todos os países entram em sua defesa. A Rússia não aceita esta aproximação, pois a Ucrânia faz fronteira direta com seu território e ao se associar a OTAN, dará permissão para que a Organização coloque toda sua estrutura bélica nos limites do território russo. Na visão de Vladimir Putin, isto representa uma ameaça a sua segurança territorial.

Como forma de reagir a essa possível aproximação da Ucrânia com a OTAN, a Rússia declara, em meados de fevereiro deste ano, que reconhece o pedido de independência das regiões de Luhansky e Dometski, áreas que ficam no leste da Ucrânia, que tem população de maioria russa e que querem se tornar independentes da Ucrânia e, até mesmo, serem anexadas à Rússia.

Diante desses dois impasses, Ucrânia se aproximando da OTAN e Rússia apoiando separatistas, o país de Vladimir Putin invadiu a Ucrânia e declarou guerra ao país com o objetivo de que a Ucrânia se comprometa a não se filiar a OTAN e que reconheça o pedido de independência das regiões situadas no leste do país.

Como reação imediata a invasão da Rússia na Ucrânia, os Estados Unidos, juntamente com o Reino Unido e países da União Europeia, decretam uma série de sanções comerciais contra a Rússia. Essas sanções têm como objetivo enfraquecer o comércio do país, levando, consequentemente, a um estrangulamento econômico do Rússia, o que dificultaria o financiamento da guerra. Além disso, os países do ocidente começaram a enviar armas e suprimentos para a Ucrânia a fim de que o país consiga resistir ao ataque russo. Com isso, o conflito, que aparentemente seria facilmente vencido pelos russos, não foi resolvido de imediato, tendo a guerra se arrastado até os dias atuais e sem previsão de se encerrar.

Na medida em que os russos vão ampliando seus ataques à Ucrânia, os países ocidentais aumentam as sanções contra a Rússia atingindo setores comerciais, econômicos e, até mesmo, na área do esporte e cultura.

O problema é que essas sanções estão afetando, principalmente, a União Europeia. Isso ocorre porque os europeus têm uma dependência muito grande de uma série de produtos, sobretudo combustíveis fósseis e alimentos, que são importados da Rússia e da Ucrânia; é isso que os economistas chamam de efeito boomerang. 

Importante salientar que a Rússia está conseguindo um fôlego econômico pois a China tem comprado produtos russos que antes eram comercializados com a União Europeia.

A consequência direta para os países europeus é o aumento da inflação e a queda do poder aquisitivo das famílias, o que gera uma série de problemas socioeconômicos oriundos da escassez de vários produtos.

Os governos europeus encontram-se numa situação delicada, principalmente pela redução no fornecimento de gás natural. Tudo indica que a estratégia de Putin é aguardar o mês de dezembro, quando começa o inverno na Europa. Neste período a demanda por petróleo e gás natural cresce muito sobretudo para que seja feita a calefação das casas e empresas. Sem o gás natural, a calefação fica comprometida e o inverno fica rigoroso demais levando riscos, inclusive, para a vida das pessoas.

Muitos estrategistas em geopolítica afirmam que Vladimir Putin espera que com a chegada do inverno a Europa fique numa situação ainda mais complicada e resolva pressionar a Ucrânia para que seja feito um acordo com a Rússia para pôr fim à guerra e haja o restabelecimento do fornecimento de gás natural.

Ocorre que nos últimos dias, a Ucrânia tem conseguido recuperar vários territórios que estão dominados pela Rússia. Com o nível de ajuda bélica, financeira e logística que os ucranianos estão recebendo dos aliados ocidentais, parece ficar cada vez mais difícil para a Rússia conseguir dominar as áreas desejadas e definitivamente enfraquecer a Ucrânia. Com isso o desfecho da guerra que parte para o nono mês parece muito incerto

Vagner dos Santos Alves é professor do curso de História e especialista em Geopolítica e Questões Ambientais.

 

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TODAS AS RÚSSIA

Por Júlio César Fidelis Soares

Segundo estudos historiográficos, nos primeiros séculos da era cristã, os citas, de origem asiática, foram deslocados pelos godos, povo germânico do qual uma tribo (os ostrogodos) estabeleceu um reino às margens do mar Negro. No século IV d.C., os hunos derrotaram os godos, destruindo a Cítia, terra dos povo Citas. Os godos se mantiveram provisoriamente no atual território da Ucrânia e a região da Bessarábia. Mais tarde chegaram os Ávaros, seguidos dos Magiares e dos Jázaros, os quais mantiveram sua influência até a primeira metade do século X.

A organização política dos eslavos orientais era ainda de caráter tribal quando os vikings começaram a navegar e comerciar pelos rios russos, no século IX. As dissensões internas eram tão virulentas que permitiram a instauração de uma aristocracia escandinava sobre os povos eslavos, o que facilitou a escolha de um príncipe viking como líder que fosse capaz de uni-los: Rurik, (Rússia é Terra de Rurik) chefe escandinavo que em 862 converteu-se em governador de Novgorod; com ele começou a expansão territorial do povo eslavo, que com a fundação do principado de Kiev chegou à fronteira setentrional do Império bizantino, com o qual estabeleceu um acordo comercial em 911.

Por falar em povos Eslavos, abrimos um espaço para dizer que daí veio a palavra Escravo, ou seja, sua etimologia, pois esta palavra não existia até então no sentido que damos hoje, em inglês grava ainda a raiz etimológica “Slave”, “Schiavo” no italiano, “Sklave” no alemão, assim podemos entender um pouco da dinâmica evolutiva da sociedade eslava do qual os ucranianos são descendentes diretos.

O povo da Rússia e da Ucrânia são dois povos e um legado partilhado entre estes dois países, que remonta há mais de mil anos, quando Kiev, agora capital da Ucrânia, estava no centro do primeiro estado eslavo, o Reino de Kiev, berço da Ucrânia e da Rússia. Em 988 d.C., Vladimir I, o príncipe pagão de Novgorod e grão-príncipe de Kiev, aceitou a fé cristã ortodoxa e foi batizado na cidade de Quersoneso, na Crimeia, alvo de várias disputas nos séculos passados, sobretudo numa disputa ferrenha no século XIX.

Com o colapso do Império Russo na revolução de 1917 e a ascensão da União Soviética em 1922 foram criadas uma série de repúblicas para subdividir o país; entre elas, a da Ucrânia, ou seja, dividir para governar. Na ditadura stalinista, os ucranianos vivenciaram o Holomodor, a grande fome dos anos de 1930, que dizimou mais de 20% de sua população. Hoje vemos um país com um passado histórico e uma dinâmica social totalmente carregada da mescla cultural Russa e Ucraniana, mas por influência política e econômica desta nova ordem tentam separar o presente do passado, apagando aquilo que sem foi a Grande Império Russo que nem mesmo a antiga URSS soube administrar e controlar, ainda que tenha tentado separar as Rússias em entes ou estados administrativos da República Soviética

Ref.Bibliográfica

 «The Crimean Tatars and their Russian-Captive Slaves. Eizo Matsuki, Mediterranean Studies Group at Hitotsubashi University» (PDF). Consultado em 4 de maio de 2013.Embaixada da Federação da Rússia no Brasil. Consultado em 08 de Novembro 2022

Prof. Júlio Fidélis é mestre em História e pesquisador em História Militar.

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